quinta-feira, 1 de março de 2012

III Trail Terras de Sicó - A minha prova

         O dia amanheceu algo nublado, mas com perspetivas de o sol brilhar com intensidade logo pela manhã. Levantei-me por volta das 7.00 horas, tomei um duche para “revitalizar” e fui até ao centro de Condeixa com a minha Mariana tomar o pequeno almoço. Uma sandes de fiambre, um pastel de nata e um galão foi o meu repasto.
         Por volta das oito horas iniciei o meu aquecimento com uma corrida muito leve e às 8.30 horas lá estava na linha da partida mantendo conversas fugazes e saltitando ao som da música para manter o físico e o espírito ativos. O ambiente estava muito agradável: temperatura amena, céu nublado, muita gente, boa música… tudo isto, na bonita praça central de Condeixa-a-Nova. Pouco depois da hora prevista lá ouvimos o tiro de partida para o início da terceira edição desta magnífica prova.
         Comecei a prova na traseira do pelotão pois sabia que estava com excesso de treinos mas, está-me no sangue, decidi esquecer o cansaço e dar tudo o que tinha; não era grande coisa mas era alguma coisa! Rapidamente chegámos às Ruínas de Conímbriga, sim esta prova nos permite passar pelo centro das ruínas. Não somos uns privilegiados? Aqui seguia em bom ritmo, ao ritmo das senhoras mais rápidas e sentia-me bastante bem, aproveitando as descidas para acelerar ao máximo. Com meia hora de prova já estava no abastecimento do Poço, bebi um copo de água e siga… após um pequeno troço de alcatrão seguimos por um trilho que serpenteava a serra e nos levava até à Fonte Coberta. Nesta aldeia estava o segundo abastecimento e aí cometi o primeiro erro: não comi no abastecimento pois sentia-me bem. Sabia das dificuldades que se seguiam mas fui imprudente. Assim que iniciei a subida após esta localidade parei para “mudar a água às azeitonas” e quando retomei o caminho os companheiros de corrida já eram outros. Fiz a subida ora a caminhar, ora em corrida lenta, e começava a sentir algum cansaço. No alto, a paisagem alimentava a alma e o cansaço esbatia-se retemperando o corpo para ultrapassar as dificuldades que ainda estavam para vir. E como tudo o que sobe desce, eis que no alto da serra, quando começamos a descer deparamos com um dilema: corremos e apreciamos a paisagem com o risco de uma grande queda, ou simplesmente corremos com os olhos cravados no chão para evitar surpresas? Eu corri com os olhos cravados no chão e, de vez em quando, lá levantava e cabeça e apreciava o imenso horizonte… imenso… imenso… de perder de vista. Caramba se a natureza é tão bela porque a destruímos? Bem, mas nós que por aqui passámos fomos brindados com toda esta beleza e a apreciámos. Após a descida, e quase a chegar a Serra de Janeanes entrámos na rua do Quelha (em espanhol rua diz-se “calhe”, e nós em Barrancos chamamos “calheão” a uma rua estreita). Mas este percurso por entre duas paredes é outro dos encantos destes trilhos. E lá estávamos nós na Serra de Janeanes para mais um abastecimento. Confesso que aqui já estava mesmo cansado e ainda faltava muito trilho a percorrer.
         Mal tínhamos recomeçado e lá estava mais uma subida… no final da subida vejo o Fernando Fonseca que me pergunta: então Francisco tudo bem? Eu pensei: o que será tudo bem? O percurso ou eu? Epá o percurso é fabuloso mas eu estou todo roto!!! Fui sincero.
Antes das Buracas do Casmilo mais uma descida que fiz mais lentamente e nas Buracas deu-me mesmo vontade de lá ficar. Que MARAVILHA. Quem não conhece deve lá ir, aqueles buracos tão perfeitos escavados nas rochas são dignos de maravilhas de Portugal. Já lá tinha estado algumas vezes e espero voltar muitas mais… DESLUMBRANTE. Mas a euforia de aqui estar terminou quando vi a subida às eólicas: meu Deus!!! Como é que eu vou subir esta parede; sim aquilo é mesmo uma parede. Quando estamos descansados é giro e o objetivo é fazer aqueles 500 metros a correr sem parar, mas quando já estamos debilitados que era o meu caso aquilo é um “monstro”. Bom, mas lá fui no carreirinho de gente e sem parar cheguei lá acima, ergui os braços para a fotografia e retomei a corrida em direção ao próximo abastecimento. Bebi água e prossegui encosta abaixo. Pouco depois dos 23 kms ultrapassámos a parte mais perigosa do percurso, mas muito bem sinalizada, e ao km 25 aconteceu-me algo inédito: um ataque de fome!!!! Já tinha ouvido falar mas não sabia o que era ficar “sem gasolina”. Mesmo assim não parei; sabia que o próximo abastecimento estava a menos de um quilómetro. Foi o pior quilómetro da minha vida: pensava em tudo o que era comida boa e estava mesmo sem forças. Quando cheguei ao abastecimento do Casmilo atirei-me logo ao pão com mel, comi que nem um desalmado (acho que os amigos que estavam na mesa do abastecimento devem ter ficado assustados); foram para aí dez pedaços de pão com mel. O Fernando Fonseca falava comigo mas eu nem o ouvia, pois eu queria era comer. Só depois é que vi que também havia cerveja: bati duas imperiais… mas sentia-me recomposto para subir às antenas. Antes tirei a fotografia da praxe com o grande dinamizador desta prova e lá segui todo lambuzado para combater o próximo obstáculo. Confesso que ainda ia com receio mas a subida às antenas correu bastante bem e a descida seguinte consegui novamente voltar a correr com alguma velocidade. Assim, de um momento para o outro estava no Furadouro, e caminhava a passos largos para o final da prova. Após o furadouro mais uma subidinha durita mas a Ameixeira era já mesmo ali. Senti uma pequena quebra ao entrar em Condeixa-a-Velha e daí até à meta voltei a sofrer um forte cansaço, mas a prova estava feita… e que prova. A meta era digna de uma prova desta dimensão: passadeira vermelha e após a mesma um banquete de reis. Um azulejo, depois uma garrafa de vinho, depois um queijo, depois mel, pelo meio uma escarpiada (pedi duas porque tinha fome)… e depois cerveja… MUITA cerveja: loira ou preta a escolha é do atleta… uma preta, duas pretas, três pretas… não quis água que essa enferruja!!! Após este banquete fiquei como novo, fui ao duche e… por mim teria repetido: TUDO.
         Não posso falar da prova em si pois faltam-me adjetivos, direi simplesmente que não notei falhas, que via os participantes com um sorriso nos lábios, que vi a organização com um sorriso nos lábio, que via os habitantes de Condeixa com um sorriso nos lábios… dizer o que?!!! Saí de lá com um grande sorriso nos lábios e que venha a quarta edição que esta foi MESMO MUITO BOA.

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