quinta-feira, 19 de abril de 2012

XIV Edição das LXVII Milhas Romanas de Mérida


Mérida, Emérita Augusta, é uma cidade fabulosa, Património Mundial, com uma história riquíssima, recheada de monumentos de grande beleza, de uma grandeza monumental só visto… Mérida é uma cidade encantadora e a cada visita que faço sempre descubro novos recantos que vale a pena. Sei que sou pouco viajado, mas do pouco que conheço, recomendo Mérida a todos os amantes de história, a todos os amantes de cidades bonitas e bem estruturadas.

Assim este era o ano de cumprir um dos meus sonhos enquanto atleta: as LXVII Milhas Romanas, que correspondem a um percurso de 100kms. Esta não é uma prova competitiva, mas sendo eu um auto competidor (eu sou o meu único adversário), esta seria a prova ideal para ficar com um tempo “decente” numa prova com três dígitos, pois o seu percurso é relativamente fácil, sendo a única dificuldade a distância.

Fui para Mérida sozinho, cheguei por volta das 16.00 horas. Levantei o dorsal 129 e regressei para o carro descansar mais um pouco. Por volta das 17.00 horas lanchei duas sandes de presunto, equipei-me e fui procurar amigos e atletas portugueses. Lá encontrei o Rui Monteiro, o Faustino, o José Sousa, o Pereira e o Paulo Alexandre… depois o José Simões e outros que não me recordo o nome. Tirei a fotografia da praxe com alguns deles e fui até à Praça de Espanha na companhia do Sousa, do Pedro Pires e de outras Lebres. No local da partida fiz o controle de dorsal e encontrei mais amigos, o António (colega do Mundo da Corrida) com as suas princesas, o Pedro Prates e a Cátia. Antes do início da prova tiramos umas quantas fotografias da “Armada Lusitana” e ao som das nove badaladas da Torre da Praça de Espanha lá saímos todos a paço. Inicialmente não dava para correr, mas a pouco e pouco fomos ganhando espaço e lá começou a corrida muito lentamente. Nesta fase estava com medo. Tinha sentido imensas dores “psicológicas” ao longo da semana, e neste início de corrida auscultava cada uma delas esperando que nenhuma se manifestasse!!! Parecia estar tudo bem, só as “costas” do joelho direito que haviam ficado maltratadas na Maratona de Badajoz é que se faziam ouvir mas de uma forma muito baixinha. A ligeira dor passou… tudo estava bem. Então vamos lá correr como deve ser.

Esta prova tem três circuitos, o primeiro é o Circuito Guadiana com uma extensão de 27 kms. Depois de percorrer algumas ruas pela cidade de Mérida vamos por um estradão, em terreno completamente plano até à “Estación de Aljucén”, onde é feito o primeiro controle. Daqui o pessoal só pode sair às 21.42. Chegámos antes da hora, eu o Pedro Prates, o António Almeida e o José Simões… que fala, fala, fala… É sexta-feira, yeah!!!! E tu Alentejano não dizes nada?!!! Excelente companhia, motiva e dá ânimo a qualquer um. Eu sendo pouco falador, lá tentava de vez em quando dizer alguma coisa, até porque me sentia bastante bem. Após a espera concluída, regressámos pelo mesmo caminho no mesmo grupo, passámos por Mérida onde me encantou a “Puente Lusitania” e entrámos num novo caminho interminável até novo posto de controle no “Camino de Alange”. Aí parei para tirar algumas pedras do sapato e fiquei num grupo com o António e o Prates. Seguíamos a bom ritmo e rapidamente aumentámos o grupo com a inclusão do Paulo, o José Simões e o Pereira, tendo chegado juntos ao final deste primeiro circuito. Antes de concluir este primeiro circuito o Paulo foi-me explicando como funcionam as provas de orientação, uma modalidade que espero um dia abraçar. No pavilhão Diócles mudei de meias, coloquei vaselina nos pés, bebi água, bebida isotónica e coca-cola, comi uns pedacinhos de tortilha e uma sandes de frango. Claro que sentia algum cansaço, mas estava bastante bem.

O segundo circuito tem o nome de “Proserpina”, que dá o nome a um grande lago que vamos circundar e tem uma distância de 28 kms. Saí do pavilhão na companhia do Pedro Prates e do António Almeida. Fomos juntos até perto do primeiro abastecimento em “Casa de Campo”. Neste espaço fiquei sem luz, mas não queria tirar o outro frontal da mochila, pois perder o contacto com estes elementos poderia ser prejudicial. Assim, ao longo de cerca de 4 kms levei alguns “solavancos” provocados por alguns pequenos buracos que existiam no estradão. Chegados ao posto de abastecimento coloquei o frontal. Lá estava o Sousa desanimado com este tipo de prova: muito monótona, noturna e sem cariz competitivo; pessoalmente também não estava a gostar muito mas eu sabia a que tipo de prova vinha, por isso nada de queixumes e vamos lá seguir em frente. A partir daqui o Pereira e o Sousa juntaram-se e formámos um quarteto, pois o António ficou no abastecimento… passado pouco tempo restava eu, o Prates e o Sousa. Eu ia no “elástico”… ora me atrasava, ora recuperava, mas ia no limite, pois sabia que se desse mais do que aquilo poderia dar o “estoiro”. O percurso que ladeia o Lago Proserpina deve ser maravilho, como estava de noite não deu para apreciar, mas um dia espero lá ir de dia, pois certamente não ficarei desiludido. No posto de abastecimento do lago juntou-se o José Simões ao nosso grupo. Tinha passado por uma indisposição. Daí até ao pavilhão voltei a ficar no elástico com o Sousa e o Prates. Felizmente o Sousa encontrou um coelho quase bebé que decidiu levar para o pavilhão para não ser atropelado, o fez abrandar um pouco o ritmo. Mesmo assim, mal os conseguia acompanhar. No pavilhão fiz o ritual da primeira paragem, mas também mudei de t-shirt. Sentia-me bem.

O terceiro circuito, na distância de 45 kms, é o “Circuito de los Pueblos”, pois passamos por Mirandilla, San Pedro de Mérida e Trujillanos. Estava eu a comer quando vejo o Simões a querer partir para não arrefecer. Vou chamar o Prates; o António ia a ficar a descansar um pouco no pavilhão e o Sousa já tinha partido. Junta-se a nós o Rui Monteiro. Saímos em quarteto para este terceiro percurso. Felizmente o Simões conhecia bem o caminho, o que nos facilitava e dava confiança na progressão. Nesta altura eu já estava cansadinho… ainda dava para correr nas retas e descidas mas nas subidas já só mesmo a andar. Mas íamos todos na mesma onda. O meu objetivo inicial seria fazer entre as 13 e as 14 horas; nesta altura sabia que com sacrifício isso seria possível. Para mim era mais fácil abandonar este grupo e fazer o resto em ritmo de passo acelerado, o que me daria para chegar dentro das 15 horas. Decidi que iria acompanhar este trio até ao mais longe possível. O Prates é excelente a colocar ritmos, e eu sabia sempre onde ele iria começar a andar; o Simões estava de novo com a moral em alta e transmite essa moral ao grupo; o Rui é Alentejano como eu e pacato como eu. O caminho até Mirandilha foram 15 intermináveis quilómetros, talvez a parte mais complicada do percurso, onde tive de ir buscar energias e forças sabe-se lá onde. Aqui passámos pelo Sousa, mas ele queria ir numa de passeio e não nos acompanhou. Tive pena, pois é um excelente companheiro e iria nas calmas no nosso grupo. Nesta parte do percurso, nas descidas não conseguia acompanhar e ficava alguns metros para trás, sendo “obrigado” a correr um pouco no início das subidas para voltar a colar ao grupo. Quando corríamos em reta sentia-me bastante à vontade. Começaram a cair alguns pingos de chuva, mas pouca coisa. A chegada a Mirandilla foi um alívio… foram 15 longos quilómetros, mas sentia que o pior já passar.a Nesta altura estava cheio de moral, pois começava a por como limite de chegada as 14 horas e sentia-me com forças para acompanhar este grupo até ao final. Em Mirandilha estava com fome, mas no abastecimento faltavam os salgadinhos… optei por comer bolachas de baunilha com creme. Estavam bem saborosas… comi uma, duas, três… muitas. Tinha a noção que era “perigoso” mas havia fomoca e arrisquei (isto não se deve fazer). O Simões “exigia” ceveza!!!! O senhor que estava no abastecimento indicou-me um bar local que possivelmente já estaria aberto!!! Estamos de broma, expliquei eu. E lá saímos para conquistar os últimos 30 kms. A saída del Pueblo era complicada, por sorte mais uma vez o Simões sabia o caminho. Acompanhou-nos um espanhol de nome Francisco Manuel, eramos agora um quinteto. As minhas pernas nesta altura eram duas tábuas… mas lá iam ainda a bom ritmo sempre imposto pelo Pedro Prates que ora corria ora andava. O meu frontal parecia novamente uma vela… não via nada mas era quase hora de amanhecer. Assim que se conseguia ver tirei o frontal da cabeça e coloquei-o na mochila. Entretanto o Rui ficou para trás numa das retas do percurso… ainda parámos a ver se ele vinha mas decidimos seguir. Com o amanhecer a chuva também começou a cair forte, e o vento que se fazia sentir, nos gelava até aos ossinhos. Quando chegámos a São Pedro de Mérida ventejava e chovia com bastante intensidade, fomos atendidos por duas senhoras que nos indicaram que até Trujillanos “era todo reto e plano”… A chuva intensificou-se e era reto mas não plano. Foram 7 quilómetros de alcatrão em autêntica montanha russa, o que para as minhas pernas não foi nada amigável chegar até Trujillanos. Aí estava cheinho de frio e decidi que não continuaria com o grupo, pois queria descansar. Atrasei-me mas voltei atrás na decisão e recolei-me ao grupo. Por um longo estradão fui-me inicialmente arrastando, e depois, cada vez com mais vontade, lá ia correndo cada vez com mais certezas que este desafio estava ganho. Em conversa com o Pedro fazíamos previsão do tempo de chegada entre as 13.15 e as 13.30. Foi com imenso prazer e alegria que todo o grupo viu Mérida ali mesmo à nossa frente. Já no centro da cidade retirei o corta vento pois queria cortar a meta com a minha camisola do Mundo da Corrida. O Simões e o Francisco decidiram correr na última subida; eu e o Prates só corremos mesmo com a meta à vista… estava feito… 13.25.00 horas.

É um percurso quase plano em toda a sua totalidade mas são 100 kms, daí a sua dureza. Enquanto o percorria houve alturas que sofri, hoje passadas 24 horas já decidi que para o ano vou lá buscar o II Miliário. É uma alegria fazer uma prova com tantos amigos portugueses; as conversas e as fotografias para mais tarde recordar e o convívio durante a prova… eu depois da prova regresso a Barrancos.




Um agradecimento especial ao Pedro Prates com quem fiz toda a prova; foi sempre ele a puxar, foi sempre ele a esperar quando algum elemento do grupo se atrasava. O José Simões que eu mal conhecia é uma simpatia e um bem humorado por natureza; sendo um atleta de outro gabarito tive o grato prazer de fazer com ele esta prova. Disfrutei ainda muito com o Paulo, o José Sousa, o António Almeida, o Pereira, o Rui Monteiro e o Francisco Manuel.

Só uma última palavra para quem pretenda fazer esta prova. Ela é organizada pensando em caminheiros, daí as criticas às marcações e à lentidão com que carimbam o passaporte, daí os abastecimentos apesar de bons não serem excecionais. O percurso é simples e agradável, mas são 100 kms de estradão e algum alcatrão. A organização é constituída por gente muito simpática que tudo faz para nos agradar e o troféu de finalista “ o Miliário” é muito bonito… como prémio de presença é o mais bonito que tenho (eu só tenho mesmo prémios de presença!!!).

Espero lá voltar em 2013… para simplesmente concluir e trazer o Miliário II… o Miliário I já cá canta com 13.25.

3 comentários:

  1. Grande reportagem amigo Bossa!
    Parabéns pelo texto e obrigado pela companhia no 1/3 prova.
    Revi-me em tudo e foi tudo isso que me fez voltar este ano para trazer o 2º Miliário...

    A Orientação está prometida!
    Terei todo o gosto em apadrinhar a estreia de toda a família.
    Recomendo a prova "NAOM 2012" (Norte Alentejano O´Meeting, 6ª edição), em Marvão a 2 e 3 de Junho. Informações em: http://gd4caminhos.com/eventos/naom/2012/

    Grande abraço,
    Paulo Fernandes

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  2. Excelente relato Bossa!
    Gostei muito de ler!
    Parabéns pela prova!
    Mas vê se recuperas essas mazelas rapidamente que te queremos em boa forma no UTSM!
    Ah, e boa maratona lá por Madrid!
    Abraço

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  3. Grande Ico, muitos parabéns, estás um senhor ultramaratonista.
    Bela jornada por terras de Mérida.
    Abraço e até amanhã.

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