terça-feira, 31 de janeiro de 2012

II Trilho dos Abutres

No sábado, dia 27, tive o grato prazer de participar no II Trilho dos Abutres realizado no concelho de Miranda do Corvo.
         Cheguei ao controlo da prova mesmo em cima da hora mas rapidamente passei pelo controlo e coloquei-me no meio do pelotão. Estava muito frio mas não me preocupei com o aquecimento, pois sendo uma prova longa faria o aquecimento ao longo da mesma (erro da minha parte). A primeira parte, dentro de Miranda do Corvo, antes de subir para o Cristo Rei deu para alongar o pelotão; tentei não ir muito lento para fluir rapidamente no alto da escadaria e assim foi. Ia a um bom ritmo para a minha qualidade (ou falta dela) daí achar que teria sido positivo ter feito um aquecimento antes da partida. A passagem no interior do Parque Biológico foi fabulosa, não só por estarmos em contacto muito próximo com alguns animais (lembro-me de ver um Lama, que não o João, a correr próximo de todos que por lá passámos), mas também porque todos aqueles caminhos e passadiços são bastante agradáveis de percorrer. Depois entrámos em trilhos muito técnicos com bastante lama e fomos por ali acima com um ambiente muito agradável entre os atletas.
         O primeiro abastecimento surgiu rapidamente ao 8º quilómetro na aldeia de Vila Nova. Grande banquete. Deu para beber uma cervejinha, água, coca-cola, banana e marmelada. Havia muitos outros produtos mas estes são os meus de eleição. Pouco depois deste surgiu um novo abastecimento “clandestino”… moscatel e queijo. Muito bom, grande simpatia desta gente. Aquilo caiu tão bem que saí dali a correr encosta acima. Em companhia de alguns atletas lá fomos serpenteando por belas paisagens que estes Trilhos nos proporcionam. Estes trilhos deixam-nos de tal forma maravilhados que nem damos pelo tempo e pelos quilómetros passarem… de repente lá estava a Barragem das Louçainhas e pouco depois chegamos ao Parque das Mestrinhas onde nos espera outro grande banquete. Tomei a dose da ordem e lá bebi uma cerveja “obrigado” pelo José Sousa: Opá, então tiras a fotografia com a garrafa e nem sequer bebes?! Tinhas razão Sousa, por isso bebi. As antenas, local mais alto da prova, estavam já ali à nossa frente. Este ano senti calor naquela subida a contrastar com o gélido vento da Iª edição. Lembrei-me do Coragem, este ano a fazer de atleta vassoura mas que há um ano atrás bem nos incentivou a ultrapassar esta dificuldade.
         Eu conhecia grande parte do percurso e pensava que a partir daqui as dificuldades seriam quase nulas… grande engano. Seguiu-se uma descida por uma pista de downhill e pouco depois um corta-fogo brutal com uma descida “rompe-piernas”… e rompeu mesmo; assim que vou iniciar a subida sinto umas cãibras terríveis nos músculos da coxa. Não conseguia andar; parei por completo e massajei a perna. A paisagem era deslumbrante mas as minhas dores também. Estaria mal preparado? Teria sido do moscatel? Agora penso que foi de não ter aquecido antes da partida. Mas as dores passaram e muito suavemente lá me fui arrastando naquela subida. Continuei a progredir bem mas com alguma preocupação devido às fortes cãibras. No 3º abastecimento comi bastantes bananas para ver se me recomponha; descansei e sentia-me muito bem. Mas assim que faço a primeira subida volto a sofrer fortes dores. Tive de parar e massajar bem as pernas. Prossegui e ao longo de uma ribeira com umas cascatas dignas de um reino encantado, que nos faziam recuperar todas as mazelas que nos acompanhavam. E fizeram mesmo. Nesta zona progredi bastante bem e estava totalmente purificado; tanta beleza e nós uns privilegiados por podermos usufruir de tudo aquilo. Passámos por uma aldeia completamente em ruínas e aí deu-me cá uma fomoca! Saquei o saco de pistachos e até Gondramaz fui repondo alguma energia; também tinha ficado sem líquidos no camelback mas isso não me preocupava: água era coisa que não faltaria. Na passagem por Gondramaz aproveitei para beber numa fonte que fica mesmo na rua principal. Quem ainda não foi a Gondramaz faça o favor de lá ir. Fiz toda aquela descida em boa velocidade e… no final da mesma voltaram as dores. Que raios!!! Pensava que já estava tudo bem. Mais uma pequena paragem e a coisa voltou a se recompor. A descida na zona dos Penedos dos Corvos foi, para mim, o trilho mais agradável. Descida de alguma dificuldade mas de grande beleza. Todo este caminho que os Caminheiros de Espinho desbravaram e cuidam com tanto carinho é por nós percorrido, e a todos deve certamente causar grande satisfação. Infelizmente ainda vi pequenos detritos que alguns deixaram cair (espero que inadvertidamente). Nos locais de maior perigo, e eram muitos, lá estavam os Bombeiros Voluntários de Miranda do Corvo, ajudando e advertindo os atletas… e oferecendo simpatia e alguns abastecimentos extras (comi após uma ponte uma laranjinha pequena que era um autêntico torrão de açúcar). Fiz toda esta zona com grande prazer sem forçar, pois estava-me a sentir muito bem mas ia com receio que as dores voltassem.
         A aldeia de Espinho estava ali mesmo à frente. Assim que entro vejo duas senhoras, talvez na casa dos 70 anos, a oferecerem água aos atletas. Ia sem sede pois havia bebido na ribeira por duas vezes, mas perante tamanha simpatia, claro que bebei um copo de água. No Ti Patamar estava o último abastecimento. Depois da dose do costume, tirei o corta-vento para chegar a Miranda com o equipamento do Mundo da Corrida bem visível: represento esta equipa com muito orgulho. Voltei a colocar a mochila às costas e lá parti para os últimos quilómetros desta agradável, muito dura mas muito agradável prova. Comecei a passar pelos caminheiros o que a mim pessoalmente dá alento. Como ia descansado (à excepção das coxas) fui metendo conversa e cumprimentando todos eles. De repente, lá estava já a entrar em Miranda do Corvo. Percorri a avenida principal com grande satisfação, após ter feito grande festejo com a claque do Mundo da Corrida. A Paula Fonseca lá tirou a fotografia da praxe e eu prossegui para os metros finais.
         Mas ainda tinha de sofrer um pouquito. No início da última subida, depois das escadas, tive de voltar a parar… epá, e agora? Nem consigo andar… um minutito parado e pronto, estávamos de novo bem. Fui então até ao pavilhão como se estivesse em primeiro lugar: entrar num pavilhão com tanta gente; o speaker de serviço dizer o nosso nome; ouvirmos um forte aplauso… será que ganhei?!!! Claro que sim, claro que ganhei, todos nós que concluímos estes II Trilhos dos Abutres fomos Vencedores. Todos nós fomos uns privilegiados por termos estado em Miranda do Corvo neste dia.
Obrigado Associação Abútrica;
Obrigado a todos aqueles que apoiaram e participaram nesta iniciativa;
Obrigado Miranda do Corvo.

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