O
dia amanheceu algo nublado, mas com perspetivas de o sol brilhar com
intensidade logo pela manhã. Levantei-me por volta das 7.00 horas, tomei um
duche para “revitalizar” e fui até ao centro de Condeixa com a minha Mariana
tomar o pequeno almoço. Uma sandes de fiambre, um pastel de nata e um galão foi
o meu repasto.
Por
volta das oito horas iniciei o meu aquecimento com uma corrida muito leve e às
8.30 horas lá estava na linha da partida mantendo conversas fugazes e
saltitando ao som da música para manter o físico e o espírito ativos. O
ambiente estava muito agradável: temperatura amena, céu nublado, muita gente,
boa música… tudo isto, na bonita praça central de Condeixa-a-Nova. Pouco depois
da hora prevista lá ouvimos o tiro de partida para o início da terceira edição
desta magnífica prova.
Comecei
a prova na traseira do pelotão pois sabia que estava com excesso de treinos
mas, está-me no sangue, decidi esquecer o cansaço e dar tudo o que tinha; não
era grande coisa mas era alguma coisa! Rapidamente chegámos às Ruínas de
Conímbriga, sim esta prova nos permite passar pelo centro das ruínas. Não somos
uns privilegiados? Aqui seguia em bom ritmo, ao ritmo das senhoras mais rápidas
e sentia-me bastante bem, aproveitando as descidas para acelerar ao máximo. Com
meia hora de prova já estava no abastecimento do Poço, bebi um copo de água e
siga… após um pequeno troço de alcatrão seguimos por um trilho que serpenteava
a serra e nos levava até à Fonte Coberta. Nesta aldeia estava o segundo
abastecimento e aí cometi o primeiro erro: não comi no abastecimento pois
sentia-me bem. Sabia das dificuldades que se seguiam mas fui imprudente. Assim
que iniciei a subida após esta localidade parei para “mudar a água às azeitonas”
e quando retomei o caminho os companheiros de corrida já eram outros. Fiz a
subida ora a caminhar, ora em corrida lenta, e começava a sentir algum cansaço.
No alto, a paisagem alimentava a alma e o cansaço esbatia-se retemperando o
corpo para ultrapassar as dificuldades que ainda estavam para vir. E como tudo
o que sobe desce, eis que no alto da serra, quando começamos a descer deparamos
com um dilema: corremos e apreciamos a paisagem com o risco de uma grande
queda, ou simplesmente corremos com os olhos cravados no chão para evitar
surpresas? Eu corri com os olhos cravados no chão e, de vez em quando, lá
levantava e cabeça e apreciava o imenso horizonte… imenso… imenso… de perder de
vista. Caramba se a natureza é tão bela porque a destruímos? Bem, mas nós que
por aqui passámos fomos brindados com toda esta beleza e a apreciámos. Após a
descida, e quase a chegar a Serra de Janeanes entrámos na rua do Quelha (em
espanhol rua diz-se “calhe”, e nós em Barrancos chamamos “calheão” a uma rua
estreita). Mas este percurso por entre duas paredes é outro dos encantos destes
trilhos. E lá estávamos nós na Serra de Janeanes para mais um abastecimento. Confesso
que aqui já estava mesmo cansado e ainda faltava muito trilho a percorrer.
Mal
tínhamos recomeçado e lá estava mais uma subida… no final da subida vejo o
Fernando Fonseca que me pergunta: então Francisco tudo bem? Eu pensei: o que
será tudo bem? O percurso ou eu? Epá o percurso é fabuloso mas eu estou todo
roto!!! Fui sincero.
Antes das Buracas do Casmilo mais uma
descida que fiz mais lentamente e nas Buracas deu-me mesmo vontade de lá ficar.
Que MARAVILHA. Quem não conhece deve lá ir, aqueles buracos tão perfeitos
escavados nas rochas são dignos de maravilhas de Portugal. Já lá tinha estado
algumas vezes e espero voltar muitas mais… DESLUMBRANTE. Mas a euforia de aqui
estar terminou quando vi a subida às eólicas: meu Deus!!! Como é que eu vou
subir esta parede; sim aquilo é mesmo uma parede. Quando estamos descansados é
giro e o objetivo é fazer aqueles 500 metros a correr sem parar, mas quando já
estamos debilitados que era o meu caso aquilo é um “monstro”. Bom, mas lá fui
no carreirinho de gente e sem parar cheguei lá acima, ergui os braços para a
fotografia e retomei a corrida em direção ao próximo abastecimento. Bebi água e
prossegui encosta abaixo. Pouco depois dos 23 kms ultrapassámos a parte mais
perigosa do percurso, mas muito bem sinalizada, e ao km 25 aconteceu-me algo
inédito: um ataque de fome!!!! Já tinha ouvido falar mas não sabia o que era
ficar “sem gasolina”. Mesmo assim não parei; sabia que o próximo abastecimento
estava a menos de um quilómetro. Foi o pior quilómetro da minha vida: pensava
em tudo o que era comida boa e estava mesmo sem forças. Quando cheguei ao
abastecimento do Casmilo atirei-me logo ao pão com mel, comi que nem um
desalmado (acho que os amigos que estavam na mesa do abastecimento devem ter
ficado assustados); foram para aí dez pedaços de pão com mel. O Fernando
Fonseca falava comigo mas eu nem o ouvia, pois eu queria era comer. Só depois é
que vi que também havia cerveja: bati duas imperiais… mas sentia-me recomposto
para subir às antenas. Antes tirei a fotografia da praxe com o grande
dinamizador desta prova e lá segui todo lambuzado para combater o próximo
obstáculo. Confesso que ainda ia com receio mas a subida às antenas correu
bastante bem e a descida seguinte consegui novamente voltar a correr com alguma
velocidade. Assim, de um momento para o outro estava no Furadouro, e caminhava
a passos largos para o final da prova. Após o furadouro mais uma subidinha
durita mas a Ameixeira era já mesmo ali. Senti uma pequena quebra ao entrar em
Condeixa-a-Velha e daí até à meta voltei a sofrer um forte cansaço, mas a prova
estava feita… e que prova. A meta era digna de uma prova desta dimensão: passadeira
vermelha e após a mesma um banquete de reis. Um azulejo, depois uma garrafa de
vinho, depois um queijo, depois mel, pelo meio uma escarpiada (pedi duas porque
tinha fome)… e depois cerveja… MUITA cerveja: loira ou preta a escolha é do
atleta… uma preta, duas pretas, três pretas… não quis água que essa
enferruja!!! Após este banquete fiquei como novo, fui ao duche e… por mim teria
repetido: TUDO.
Não
posso falar da prova em si pois faltam-me adjetivos, direi simplesmente que não
notei falhas, que via os participantes com um sorriso nos lábios, que vi a
organização com um sorriso nos lábio, que via os habitantes de Condeixa com um
sorriso nos lábios… dizer o que?!!! Saí de lá com um grande sorriso nos lábios
e que venha a quarta edição que esta foi MESMO MUITO BOA.
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