No sábado, dia 27, tive
o grato prazer de participar no II Trilho dos Abutres realizado no concelho de
Miranda do Corvo.
Cheguei
ao controlo da prova mesmo em cima da hora mas rapidamente passei pelo controlo
e coloquei-me no meio do pelotão. Estava muito frio mas não me preocupei com o
aquecimento, pois sendo uma prova longa faria o aquecimento ao longo da mesma
(erro da minha parte). A primeira parte, dentro de Miranda do Corvo, antes de
subir para o Cristo Rei deu para alongar o pelotão; tentei não ir muito lento
para fluir rapidamente no alto da escadaria e assim foi. Ia a um bom ritmo para
a minha qualidade (ou falta dela) daí achar que teria sido positivo ter feito
um aquecimento antes da partida. A passagem no interior do Parque Biológico foi
fabulosa, não só por estarmos em contacto muito próximo com alguns animais
(lembro-me de ver um Lama, que não o João, a correr próximo de todos que por lá
passámos), mas também porque todos aqueles caminhos e passadiços são bastante
agradáveis de percorrer. Depois entrámos em trilhos muito técnicos com bastante
lama e fomos por ali acima com um ambiente muito agradável entre os atletas.
O
primeiro abastecimento surgiu rapidamente ao 8º quilómetro na aldeia de Vila
Nova. Grande banquete. Deu para beber uma cervejinha, água, coca-cola, banana e
marmelada. Havia muitos outros produtos mas estes são os meus de eleição. Pouco
depois deste surgiu um novo abastecimento “clandestino”… moscatel e queijo.
Muito bom, grande simpatia desta gente. Aquilo caiu tão bem que saí dali a
correr encosta acima. Em companhia de alguns atletas lá fomos serpenteando por
belas paisagens que estes Trilhos nos proporcionam. Estes trilhos deixam-nos de
tal forma maravilhados que nem damos pelo tempo e pelos quilómetros passarem…
de repente lá estava a Barragem das Louçainhas e pouco depois chegamos ao
Parque das Mestrinhas onde nos espera outro grande banquete. Tomei a dose da
ordem e lá bebi uma cerveja “obrigado” pelo José Sousa: Opá, então tiras a
fotografia com a garrafa e nem sequer bebes?! Tinhas razão Sousa, por isso
bebi. As antenas, local mais alto da prova, estavam já ali à nossa frente. Este
ano senti calor naquela subida a contrastar com o gélido vento da Iª edição.
Lembrei-me do Coragem, este ano a fazer de atleta vassoura mas que há um ano
atrás bem nos incentivou a ultrapassar esta dificuldade.
Eu
conhecia grande parte do percurso e pensava que a partir daqui as dificuldades
seriam quase nulas… grande engano. Seguiu-se uma descida por uma pista de
downhill e pouco depois um corta-fogo brutal com uma descida “rompe-piernas”… e
rompeu mesmo; assim que vou iniciar a subida sinto umas cãibras terríveis nos
músculos da coxa. Não conseguia andar; parei por completo e massajei a perna. A
paisagem era deslumbrante mas as minhas dores também. Estaria mal preparado? Teria
sido do moscatel? Agora penso que foi de não ter aquecido antes da partida. Mas
as dores passaram e muito suavemente lá me fui arrastando naquela subida. Continuei
a progredir bem mas com alguma preocupação devido às fortes cãibras. No 3º
abastecimento comi bastantes bananas para ver se me recomponha; descansei e
sentia-me muito bem. Mas assim que faço a primeira subida volto a sofrer fortes
dores. Tive de parar e massajar bem as pernas. Prossegui e ao longo de uma
ribeira com umas cascatas dignas de um reino encantado, que nos faziam
recuperar todas as mazelas que nos acompanhavam. E fizeram mesmo. Nesta zona
progredi bastante bem e estava totalmente purificado; tanta beleza e nós uns
privilegiados por podermos usufruir de tudo aquilo. Passámos por uma aldeia
completamente em ruínas e aí deu-me cá uma fomoca! Saquei o saco de pistachos e
até Gondramaz fui repondo alguma energia; também tinha ficado sem líquidos no
camelback mas isso não me preocupava: água era coisa que não faltaria. Na
passagem por Gondramaz aproveitei para beber numa fonte que fica mesmo na rua
principal. Quem ainda não foi a Gondramaz faça o favor de lá ir. Fiz toda
aquela descida em boa velocidade e… no final da mesma voltaram as dores. Que
raios!!! Pensava que já estava tudo bem. Mais uma pequena paragem e a coisa
voltou a se recompor. A descida na zona dos Penedos dos Corvos foi, para mim, o
trilho mais agradável. Descida de alguma dificuldade mas de grande beleza. Todo
este caminho que os Caminheiros de Espinho desbravaram e cuidam com tanto
carinho é por nós percorrido, e a todos deve certamente causar grande
satisfação. Infelizmente ainda vi pequenos detritos que alguns deixaram cair
(espero que inadvertidamente). Nos locais de maior perigo, e eram muitos, lá
estavam os Bombeiros Voluntários de Miranda do Corvo, ajudando e advertindo os
atletas… e oferecendo simpatia e alguns abastecimentos extras (comi após uma
ponte uma laranjinha pequena que era um autêntico torrão de açúcar). Fiz toda
esta zona com grande prazer sem forçar, pois estava-me a sentir muito bem mas
ia com receio que as dores voltassem.
A
aldeia de Espinho estava ali mesmo à frente. Assim que entro vejo duas senhoras,
talvez na casa dos 70 anos, a oferecerem água aos atletas. Ia sem sede pois
havia bebido na ribeira por duas vezes, mas perante tamanha simpatia, claro que
bebei um copo de água. No Ti Patamar estava o último abastecimento. Depois da
dose do costume, tirei o corta-vento para chegar a Miranda com o equipamento do
Mundo da Corrida bem visível: represento esta equipa com muito orgulho. Voltei
a colocar a mochila às costas e lá parti para os últimos quilómetros desta
agradável, muito dura mas muito agradável prova. Comecei a passar pelos
caminheiros o que a mim pessoalmente dá alento. Como ia descansado (à excepção
das coxas) fui metendo conversa e cumprimentando todos eles. De repente, lá
estava já a entrar em Miranda do Corvo. Percorri a avenida principal com grande
satisfação, após ter feito grande festejo com a claque do Mundo da Corrida. A
Paula Fonseca lá tirou a fotografia da praxe e eu prossegui para os metros
finais.
Mas
ainda tinha de sofrer um pouquito. No início da última subida, depois das
escadas, tive de voltar a parar… epá, e agora? Nem consigo andar… um minutito
parado e pronto, estávamos de novo bem. Fui então até ao pavilhão como se
estivesse em primeiro lugar: entrar num pavilhão com tanta gente; o speaker de
serviço dizer o nosso nome; ouvirmos um forte aplauso… será que ganhei?!!! Claro
que sim, claro que ganhei, todos nós que concluímos estes II Trilhos dos
Abutres fomos Vencedores. Todos nós fomos uns privilegiados por termos estado
em Miranda do Corvo neste dia.
Obrigado Associação Abútrica;
Obrigado a todos aqueles que apoiaram e
participaram nesta iniciativa;
Obrigado Miranda do Corvo.
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