Fui
para Mérida sozinho, cheguei por volta das 16.00 horas. Levantei o dorsal 129 e
regressei para o carro descansar mais um pouco. Por volta das 17.00 horas
lanchei duas sandes de presunto, equipei-me e fui procurar amigos e atletas
portugueses. Lá encontrei o Rui Monteiro, o Faustino, o José Sousa, o Pereira e
o Paulo Alexandre… depois o José Simões e outros que não me recordo o nome. Tirei a
fotografia da praxe com alguns deles e fui até à Praça de Espanha na companhia
do Sousa, do Pedro Pires e de outras Lebres. No local da partida fiz o controle
de dorsal e encontrei mais amigos, o António (colega do Mundo da Corrida) com as suas princesas, o
Pedro Prates e a Cátia. Antes do início da prova tiramos umas quantas fotografias da
“Armada Lusitana” e ao som das nove badaladas da Torre da Praça de Espanha lá
saímos todos a paço. Inicialmente não dava para correr, mas a pouco e pouco
fomos ganhando espaço e lá começou a corrida muito lentamente. Nesta fase
estava com medo. Tinha sentido imensas dores “psicológicas” ao longo da semana,
e neste início de corrida auscultava cada uma delas esperando que nenhuma se
manifestasse!!! Parecia estar tudo bem, só as “costas” do joelho direito que
haviam ficado maltratadas na Maratona de Badajoz é que se faziam ouvir mas de
uma forma muito baixinha. A ligeira dor passou… tudo estava bem. Então vamos lá
correr como deve ser.
Esta
prova tem três circuitos, o primeiro é o Circuito Guadiana com uma extensão de
27 kms. Depois de percorrer algumas ruas pela cidade de Mérida vamos por um
estradão, em terreno completamente plano até à “Estación de Aljucén”, onde é
feito o primeiro controle. Daqui o pessoal só pode sair às 21.42. Chegámos
antes da hora, eu o Pedro Prates, o António Almeida e o José Simões… que fala,
fala, fala… É sexta-feira, yeah!!!! E tu Alentejano não dizes nada?!!!
Excelente companhia, motiva e dá ânimo a qualquer um. Eu sendo pouco falador,
lá tentava de vez em quando dizer alguma coisa, até porque me sentia bastante
bem. Após a espera concluída, regressámos pelo mesmo caminho no mesmo grupo,
passámos por Mérida onde me encantou a “Puente Lusitania” e entrámos num novo
caminho interminável até novo posto de controle no “Camino de Alange”. Aí parei
para tirar algumas pedras do sapato e fiquei num grupo com o António e o
Prates. Seguíamos a bom ritmo e rapidamente aumentámos o grupo com a inclusão
do Paulo, o José Simões e o Pereira, tendo chegado juntos ao final deste
primeiro circuito. Antes de concluir este primeiro circuito o Paulo foi-me
explicando como funcionam as provas de orientação, uma modalidade que espero um
dia abraçar. No pavilhão Diócles mudei de meias, coloquei vaselina nos pés,
bebi água, bebida isotónica e coca-cola, comi uns pedacinhos de tortilha e uma
sandes de frango. Claro que sentia algum cansaço, mas estava bastante bem.
O
segundo circuito tem o nome de “Proserpina”, que dá o nome a um grande lago que
vamos circundar e tem uma distância de 28 kms. Saí do pavilhão na companhia do
Pedro Prates e do António Almeida. Fomos juntos até perto do primeiro abastecimento
em “Casa de Campo”. Neste espaço fiquei sem luz, mas não queria tirar o outro
frontal da mochila, pois perder o contacto com estes elementos poderia ser
prejudicial. Assim, ao longo de cerca de 4 kms levei alguns “solavancos”
provocados por alguns pequenos buracos que existiam no estradão. Chegados ao
posto de abastecimento coloquei o frontal. Lá estava o Sousa desanimado com
este tipo de prova: muito monótona, noturna e sem cariz competitivo;
pessoalmente também não estava a gostar muito mas eu sabia a que tipo de prova
vinha, por isso nada de queixumes e vamos lá seguir em frente. A partir daqui o
Pereira e o Sousa juntaram-se e formámos um quarteto, pois o António ficou no abastecimento… passado pouco tempo
restava eu, o Prates e o Sousa. Eu ia no “elástico”… ora me atrasava, ora
recuperava, mas ia no limite, pois sabia que se desse mais do que aquilo
poderia dar o “estoiro”. O percurso que ladeia o Lago Proserpina deve ser
maravilho, como estava de noite não deu para apreciar, mas um dia espero lá ir
de dia, pois certamente não ficarei desiludido. No posto de abastecimento do
lago juntou-se o José Simões ao nosso grupo. Tinha passado por uma
indisposição. Daí até ao pavilhão voltei a ficar no elástico com o Sousa e o
Prates. Felizmente o Sousa encontrou um coelho quase bebé que decidiu levar
para o pavilhão para não ser atropelado, o fez abrandar um pouco o ritmo. Mesmo
assim, mal os conseguia acompanhar. No pavilhão fiz o ritual da primeira
paragem, mas também mudei de t-shirt. Sentia-me bem.
O
terceiro circuito, na distância de 45 kms, é o “Circuito de los Pueblos”, pois
passamos por Mirandilla, San Pedro de Mérida e Trujillanos. Estava eu a comer
quando vejo o Simões a querer partir para não arrefecer. Vou chamar o Prates; o
António ia a ficar a descansar um pouco no pavilhão e o Sousa já tinha partido.
Junta-se a nós o Rui Monteiro. Saímos em quarteto para este terceiro percurso.
Felizmente o Simões conhecia bem o caminho, o que nos facilitava e dava
confiança na progressão. Nesta altura eu já estava cansadinho… ainda dava para
correr nas retas e descidas mas nas subidas já só mesmo a andar. Mas íamos
todos na mesma onda. O meu objetivo inicial seria fazer entre as 13 e as 14
horas; nesta altura sabia que com sacrifício isso seria possível. Para mim era
mais fácil abandonar este grupo e fazer o resto em ritmo de passo acelerado, o
que me daria para chegar dentro das 15 horas. Decidi que iria acompanhar este
trio até ao mais longe possível. O Prates é excelente a colocar ritmos, e eu
sabia sempre onde ele iria começar a andar; o Simões estava de novo com a moral
em alta e transmite essa moral ao grupo; o Rui é Alentejano como eu e pacato
como eu. O caminho até Mirandilha foram 15 intermináveis quilómetros, talvez a
parte mais complicada do percurso, onde tive de ir buscar energias e forças
sabe-se lá onde. Aqui passámos pelo Sousa, mas ele queria ir numa de passeio e
não nos acompanhou. Tive pena, pois é um excelente companheiro e iria nas
calmas no nosso grupo. Nesta parte do percurso, nas descidas não conseguia
acompanhar e ficava alguns metros para trás, sendo “obrigado” a correr um pouco
no início das subidas para voltar a colar ao grupo. Quando corríamos em reta
sentia-me bastante à vontade. Começaram a cair alguns pingos de chuva, mas
pouca coisa. A chegada a Mirandilla foi um alívio… foram 15 longos quilómetros,
mas sentia que o pior já passar.a Nesta altura estava cheio de moral, pois
começava a por como limite de chegada as 14 horas e sentia-me com forças para
acompanhar este grupo até ao final. Em Mirandilha estava com fome, mas no
abastecimento faltavam os salgadinhos… optei por comer bolachas de baunilha com
creme. Estavam bem saborosas… comi uma, duas, três… muitas. Tinha a noção que
era “perigoso” mas havia fomoca e arrisquei (isto não se deve fazer). O Simões
“exigia” ceveza!!!! O senhor que estava no abastecimento indicou-me um bar
local que possivelmente já estaria aberto!!! Estamos de broma, expliquei eu. E
lá saímos para conquistar os últimos 30 kms. A saída del Pueblo era complicada,
por sorte mais uma vez o Simões sabia o caminho. Acompanhou-nos um espanhol de
nome Francisco Manuel, eramos agora um quinteto. As minhas pernas nesta altura
eram duas tábuas… mas lá iam ainda a bom ritmo sempre imposto pelo Pedro Prates
que ora corria ora andava. O meu frontal parecia novamente uma vela… não via
nada mas era quase hora de amanhecer. Assim que se conseguia ver tirei o
frontal da cabeça e coloquei-o na mochila. Entretanto o Rui ficou para trás
numa das retas do percurso… ainda parámos a ver se ele vinha mas decidimos
seguir. Com o amanhecer a chuva também começou a cair forte, e o vento que se
fazia sentir, nos gelava até aos ossinhos. Quando chegámos a São Pedro de
Mérida ventejava e chovia com bastante intensidade, fomos atendidos por duas
senhoras que nos indicaram que até Trujillanos “era todo reto e plano”… A chuva
intensificou-se e era reto mas não plano. Foram 7 quilómetros de alcatrão em
autêntica montanha russa, o que para as minhas pernas não foi nada amigável
chegar até Trujillanos. Aí estava cheinho de frio e decidi que não continuaria
com o grupo, pois queria descansar. Atrasei-me mas voltei atrás na decisão e
recolei-me ao grupo. Por um longo estradão fui-me inicialmente arrastando, e
depois, cada vez com mais vontade, lá ia correndo cada vez com mais certezas que
este desafio estava ganho. Em conversa com o Pedro fazíamos previsão do tempo
de chegada entre as 13.15 e as 13.30. Foi com imenso prazer e alegria que todo
o grupo viu Mérida ali mesmo à nossa frente. Já no centro da cidade retirei o
corta vento pois queria cortar a meta com a minha camisola do Mundo da Corrida.
O Simões e o Francisco decidiram correr na última subida; eu e o Prates só corremos
mesmo com a meta à vista… estava feito… 13.25.00 horas.
É um percurso quase plano em toda a
sua totalidade mas são 100 kms, daí a sua dureza. Enquanto o percorria houve
alturas que sofri, hoje passadas 24 horas já decidi que para o ano vou lá
buscar o II Miliário. É uma alegria fazer uma prova com tantos amigos
portugueses; as conversas e as fotografias para mais tarde recordar e o
convívio durante a prova… eu depois da prova regresso a Barrancos.
Um
agradecimento especial ao Pedro Prates com quem fiz toda a prova; foi sempre
ele a puxar, foi sempre ele a esperar quando algum elemento do grupo se
atrasava. O José Simões que eu mal conhecia é uma simpatia e um bem humorado
por natureza; sendo um atleta de outro gabarito tive o grato prazer de fazer com
ele esta prova. Disfrutei ainda muito com o Paulo, o José Sousa, o António
Almeida, o Pereira, o Rui Monteiro e o Francisco Manuel.
Espero
lá voltar em 2013… para simplesmente concluir e trazer o Miliário II… o Miliário I
já cá canta com 13.25.